O açúcar – Ferreira Gullar


O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

AM recitando Byron e Baudelaire


Trevas

Eu tive um sonho que não era em tudo um sonho
O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas
Vaguejavam escuras pelo espaço eterno,
Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra
Girava cega e negrejante no ar sem lua;
Veio e foi-se a manhã – veio e não trouxe o dia;
E os homens esqueceram as paixões, no horror
Dessa desolação; e os corações esfriaram
Numa prece egoísta que implorava luz:
E eles viviam ao redor do fogo; e os tronos,
Os palácios dos reis coroados, as cabanas,
As moradas, enfim, do gênero que fosse,
Em chamas davam luz; cidades consumiam-se
E os homens se juntavam juntos às casas ígneas
Para ainda uma vez olhar o rosto um do outro;
Felizes enquanto residiam bem à vista
dos vulcões e de sua tocha montanhosa;
Expectativa apavorada era a do mundo;
queimavam-se as florestas – mas de hora em hora
Tombavam, desfaziam-se – e, estralando, os troncos
Findavam num estrondo – e tudo era negror.
À luz desesperante a fronte dos humanos
Tinha um aspecto não terreno, se espasmódicos
Neles batiam os clarões; alguns, por terra,
Escondiam chorando os olhos; apoiavam
Outros o queixo às mãos fechadas, e sorriam;
Muitos corriam para cá e para lá,
Alimentando a pira, e a vista levantavam
Com doida inquietação para o trevoso céu
A mortalha de um mundo extinto; e então de novo
Com maldições olhavam a poeira, e uivavam,
Rangendo os dentes; e aves bravas davam gritos
E cheias de terror voejavam junto ao solo,
Batendo asas inúteis; as mais rudes feras
Chegavam mansas e a tremer; rojavam víboras,
E entrelaçavam-se por entre a multidão,
Silvando, mas sem presas – e eram devoradas.
E fartava-se a Guerra que cessara um tempo,
E qualquer refeição comprava-se com sangue;
E cada um sentava-se isolado e torvo,
Empanturrando-se no escuro; o amor findara;
A terra era uma idéia só – e era a de morte
Imediata e inglória; e se cevava o mal
Da fome em todas as entranhas; e morriam
Os homens, insepultos sua carne e ossos;
Os magros pelos magros eram devorados,
Os cães salteavam os seus donos, exceto um,
Que se mantinha fiel a um corpo, e conservava
Em guarda as bestas e aves e os famintos homens,
Até a fome os levar, ou os que caíam mortos
Atraírem seus dentes; ele não comia,
Mas com um gemido comovente e longo, e um grito
Rápido e desolado, e relambendo a mão
Que já não o agradava em paga – ele morreu.
Finou-se a multidão de fome, aos poucos; dois,
Porém, de uma cidade enorme resistiram,
Dois inimigos, que vieram encontrar-se
Junto às brasas agonizantes de um altar
Onde se haviam empilhado coisas santas
Para um uso profano; eles as revolveram
E trêmulos rasparam, com as mão esqueléticas,
As débeis cinzas, e com um débil assoprar
Para viver um nada, ergueram uma chama
Que não passava de um arremedo; então alcançaram
Os olhos quando ela se fez mais viva, e espiaram
O rosto um do outro – ao ver, gritaram e morreram
– Morreram de sua própria e mútua hediondez,
Sem um reconhecer o outro em cuja fronte
Grafara a fome “diabo”. O mundo se esvaziara,
O populoso e forte era um informe massa,
Sem estações nem árvore, erva, homem, vida,
Massa informe de morte – um caos de argila dura.
Pararam lagos, rios, oceanos: nada
Mexia em suas profundezas silenciosas;
Sem marujos, no mar as naus apodreciam,
Caindo os mastros aos pedaços; e, ao caírem,
Dormiam nos abismos sem fazer mareta,
Mortas as ondas, e as marés na sepultura,
Que já findara sua lua senhoril.
Os ventos feneceram no ar inerte, e as nuvens
Tiveram fim; a Escuridão não precisava
De seu auxílio – as Trevas eram o Universo.

O crepúsculo da tarde

Anão e servos, menestrel e bardos,
o árabe narrador e as bailarinas
desertaram das salas do banquete.
Haydéa e seu amante, a sós, estavam,
vendo o sol que em desmaio no ocidente
bordava o céu de franjas cor-de-rosa.

Ave-Maria! estrela do viandante,
tu conduzes ao pouso o peregrino
que anda, longe dos seus, na terra estranha.
Salve, estrela do mar; em ti se fitam
olhos e coração do marinheiro
que no oceano te saúda agora.
Salve, rainha excelsa, Ave-Maria!
Ei-la que chega a hora do teu culto,
à tardinha, em céu meigo, à luz do ocaso!

Bendita seja est’hora tão querida,
e o tempo, e o clima, e os sítios suspirados,
onde eu gozava na manhã da vida
o enlevo, – o santo enlevo, – deste instante!
Soava ao longe, – bem me lembro ainda, –
na velha torre o sino do mosteiro;
subia ao céu em notas morredouras
o harmonioso cântico da tarde;
era tudo silêncio, – e só se ouvia
a natureza a suspirar seus hinos
de arroubo e fé, – de devoção e pasmo.

Hora do coração, do amor, das preces,
Salve, Maria. Enlevo a ti minha alma,
Como é formoso o oval de teu semblante!
Amo teu rosto feiticeiro e belo,
amo o doce recato de teus olhos,
que se cravam na terra, enquanto adejam
sobre tua puríssima cabeça
cândidas asas de celeste anúncio!
Será isto um painel da fantasia?
Um quadro, um canto, uma legenda, um sonho?
Não! somente me prostro ante a verdade.

Aprazem-se uns obscuros casuístas
em criminar-me de ímpio. – Eles que venham
ajoelhar-se e suplicar comigo…
Veremos qual de nós melhor conhece
o caminho do céu. – São meus altares
as montanhas, as vagas do oceano,
a terra, o ar, os astros, o universo,
tudo o que emana da sublime Essência,
de onde exalou-se, e aonde irá minh’alma.

Hora doce do trêmulo crepúsculo!
quantas vezes errante, junto à praia,
na solidão dos bosques de Ravena,
que se alastram por onde antigamente
flutuavam as ondas do Adriático,
Bosques frondosos, para mim sagrados
pelos graciosos contos do Boccácio,
pelos versos de Dryden; – quantas vezes
aí cismei aos arrebóis da tarde!

Tudo o que há de mais grato, a ti devemos,
ó Héspero: – ao romeiro fatigado
dás a hospedagem: – a cansado obreiro,
a refeição da tarde; – ao passarinho,
a asa da mãe; – ao boi, o aprisco:
toda a paz que se goza em torno aos lares,
o quente, o meigo aninho dos penates,
descem contigo à hora do repouso,
tu coas n’alma o doce da saudade;
moves o coração, que a vez primeira
sai da terra natal, deixa os amigos,
e anda à mercê das ondas do oceano:
enterneces, enfim, o peregrino
ao som da torre, cuja voz sentida
como que chora o dia moribundo.

Embriaguem-se
(Baudelaire)

Há que estar sempre embriagado. Tudo está nisto: é a única questão. Para não sentir o terrível fardo do Tempo que lhes dilacera os ombros e os encurva para a terra, embriagar-se sem cessar é preciso.

Mas de quê? De vinho, poesia ou virtude, a escolha é sua. Mas embriaguem-se.

E se às vezes, nas escadarias de um palácio, na verde relva de um barranco, na solidão morna do seu quarto, vocês acordarem, com a embriaguez já diminuída ou sumida, perguntem ao relógio, ao vento, à vaga, às estrelas, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntem que horas são; e o relógio, o vento, a vaga, a estrela, as aves responderão: “É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; sem cessar embriaguem-se! De vinho, poesia ou virtude, a escolha é sua.

F#d@-se o cupido!


Hahhahahhhahah minha mãe é um barato – sabendo dos meus fiascos, comprou esse livro para mim, e só a capa já vale! *rs* (o subtítulo do livro é: “guia de meninas atrevidas para pegar caras gatos” kkkkkk!!! Apelativo como eu gosto 😉 )

Muito engraçadinha…espero que o conteúdo seja bom também 😉

Diz a sinopse:

“Há uma regra não escrita em nossa sociedade que diz que toda mulher deve sempre esperar para ser paquerada por um homem. No entanto, diversas moças acham isso ultrapassado e estão dispostas a virar o jogo. O problema é que, por não estarem familiarizadas com essa situação, não sabem muito bem como dar início a uma cantada e, muitas vezes, acabam se dando mal.

F#d@-se o cupido! foi escrito para ajudar essas mulheres, tornando-se um guia para quem cansou de esperar o cupido entrar em ação e resolveu assumir o controle de sua vida amorosa. Relatando seus muitos anos de paquera (incluindo as hilariantes tentativas frustradas), Samantha Scholfield revela as técnicas e estratégias que considera mais úteis para seduzir o pretendente escolhido, além de apresentar métodos infalíveis para iniciar uma conversa a qualquer momento e em qualquer lugar – sem o cara sequer reparar que está sendo cantado.

Entre muitas outras coisas, com F#d@-se o cupido!, as mulheres vão conhecer: o que realmente acontece quando se flerta com um cara; cinco técnicas para melhorar as habilidades de paquera e aumentar sua confiança; 51 lugares perfeitos para conhecer o futuro namorado; tudo sobre linguagem corporal; e como usar essas técnicas em namoros on-line.”

“Escrito para as mulheres que acreditam que não é apenas na carreira que se deve manter as rédeas da situação, F#dA-se o cupido! revela-se o guia definitivo para quem quer tomar a iniciativa e abordar os homens sem se meter em saias justas.
A autora Samantha Scholfield estimula a autoconfiança da leitora oferecendo dicas para criar oportunidades de aproximação sem comprometer a autoestima e o bom humor. A leitora receberá orientações sobre os melhores lugares para fazer suas investidas e ainda aprenderá técnicas em que os homens nem percebem que estão sendo abordados. Com esse livro, as mulheres darão o primeiro passo de uma maneira natural e espontânea, virando o jogo da sedução a favor de todos!”

Promete, promete…! Depois eu conto se é luxo ou lixo 😉

Atendendo a pedidos…


(este post é para você, querido Dante beatrizento! 😉 )

Ah, aproveito para deixar aqui três poemas do Braga, já que a temática é apropriada (visitem o site dele para mais sacanagens!)

primeiro foi um dedo e não foi fácil
gemeu e reclamou mas pediu mais
carícias em seu corpo prazer táctil
primeira vez que realmente faz

o medo consistente está volátil
agora é hora certa outra jamais
molhada ser rasgada um pau pulsátil
depois da forte dor consegue paz

mas arde e não se solta e não consegue
embora com tesão e estando a fim
se esforça e se concentra e o ato segue

e pensa que não é pra ser assim
espera a uma luz que forte a cegue
de fato a irá buscar até seu fim.

pro dia dos namorados:

acordo de manhã com meu pau duro
chupava, no meu sonho, uma buceta
sem pelos, bem molhada… estava escuro
sentia com os lábios do capeta

ouvi alguns gemidos e um sussurro
talvez também um anjo, uma trombeta
com língua e precisão: trabalho puro
se não tem esse dom pois nem se meta

sonhando, claro, estava meio em transe
passava minhas mãos em pele nua
e tudo o que existia, ao meu alcance

os astros, os planetas, sol e lua
buceta que fascine, que me amanse?
eu tenho por certeza que era a sua!

—-

comer um cu requer ter muito jeito
buceta (que é mais fácil e natural)
também requer ser bom, fazer direito
mas cu é quem ensina o pau ser pau

comer atrás, na bunda, é algo perfeito
o sabe bem quem curte um bom anal
e sabe, garotinha, sou sujeito
que nunca lhe faria qualquer mal

portanto vá, confie, vá e deixe
e morda minha mão se sentir dor
aguente e seja forte e não se queixe

que vou gozar bem fundo e com ardor
depois, com quem quiser que você deite
você se lembrará do meu calor.

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Bem…após esta introdução (!) *rs* sugestiva, eis o real propósito do post:

DEZ CLÁSSICOS ERÓTICOS PARA LER NA CAMA

…esqueceram do Lolita (Nabokov), do Amante de Lady Chatterley (D.H.Lawrence) e do Trópico de Capricórnio (Henry Miller) 😉 Ah, e o Memórias de minhas putas tristes (Gabriel García Márquez)! Sem contar os poemas eróticos do Drummond, a obra da Hilda Hilst, e as antigas putarias do Catulo e da Safo, passando pela quase desconhecida Catherine Millet 🙂

10 A HISTÓRIA DE O, de Pauline Reage
O décimo na lista é um clássico da submissão. Tinha de ser francês. Ninguém supera os franceses em preguiça, arrogância e sabedoria na arte do sexo. O livro, de 1954, é de Pauline Réage. É um nome falso dado o conteúdo chocante. Pouco antes da morte da autora soube-se que se tratava na verdade de Anne Desclos (1907- 1998). O romance foi transformado em filme igualmente bom protagonizado pela belle Corinne Cléry. Nada é mais erótico do que a submissão, como sabemos todos nós que mesmo não sendo franceses não somos bobos. O, fotógrafa de moda parisiense, aceita participar de uma sociedade secreta na qual as mulheres estão à completa disposição dos homens. Alguns detalhes são notáveis. As mulheres jamais vestem calcinha e devem ficar todo o tempo com as pernas levemente abertas. O, como suas companheiras, ao dar tudo recebe tudo. Essa é a lógica da submissão, a qual se expressa de forma sublime no momento em que ela oferece a carne jovem para que seja marcada como se fosse gado a ferro quente por seu proprietário. A dor é a grande parceira da submissão nos jogos eróticos. É sem dúvida um livro que não pode faltar em qualquer biblioteca erótica decente.

9 ENGRAÇADINHA, de Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues (1912-1980) foi melhor que o Brasil. Se tivesse escrito em inglês e nascido nos Estados Unidos, seria hoje um escritor da estatura de Hemingway.

E mais versátil: o melhor dele está nas peças absurdamente inovadoras e bem escritas, mas também no conto, no romance, nas crônicas de fatos diversos NR apresentou um nível irritantemente elevado.

Ele escreveu folhetins com os companheiros de redação olhando pelas costas aonde iam dar as tramas. Para coisas que achava pouco sérias, usava o pseudônimo retumbante de Suzana Flag. Engraçadinha, ou Asfalto Selvagem, é dos anos 1940. É tão provocativo que, se um jihadista ler, pode decidir não mais explodir com uma bomba, e sim aproveitar as delícias terrenas proporcionadas pelas mulheres.

Ela é uma jovem suburbana carioca que enlouquece sexualmente todo mundo, inclusive uma prima. Sua beleza e sua libido são do tamanho do Redentor. Engraçadinha tem depois uma filha que é sua continuação na vertigem sexual, Silene.

As aventuras de Engraçadinha, Letícia, Silene e tanta gente são valorizadas pela prosa soberba de Nelson Rodrigues, um dos meus queridos entre os queridos, um gênio, um talento para juntar palavras só comparável em língua portuguesa a Machado de Assis, e se alguém disser que a mim mesmo eu abjuro.

8 O CRIME DO PADRE AMARO, de Eça de Queiroz
Você pode bem imaginar qual é o crime do padre Amaro. Ele conquista o coração e a carne tenra de uma rapariga linda e pura, Amélia. Com seu realismo e seu brutal anticlericalismo, Eça de Queiroz (1845- 1900) faz de O Crime do Padre Amaro um romance de elevado teor sexual. A conquista de Amélia pelo predador sexual de batina é lenta, gradual e segura. O leitor como que assiste de camarote. Eça é um escritor que tem de ser lido. Seu manejo do português é soberbo. Ele tem a mesma estatura de gigantes como Balzac, Zola, Dostoievski e Machado de Assis. Dominou como poucos a arte de escrever romances. Você conhece a história de Portugal na segunda metade do século 19 pelas páginas de Eça. O sexo em Machado de Assis era sutil. Você nem sequer tem certeza de que Capitu traiu o marido Bentinho porque fica no ar a possibilidade de ciúme doentio do narrador, o próprio Bentinho. Em Eça, não. O sexo é como ele é na vida real – uma força da natureza.

7 DECAMERON, de Boccaccio
A Idade Média ao menos na Itália era bem menos casta e religiosa do que você pode imaginar se olhar muito para aqueles afrescos cristãos. Copulava-se, e como, ali. Os homens viviam pouco e tratavam de semear as mulheres para garantir a sobrevivência de seus genes. As mulheres não pareciam se queixar. É o que você percebe ao ler Decameron, de Boccaccio (1313-1375), livro que traz uma série de histórias entremeadas por um único fator: o sexo despudorado e quase sempre cômico. Os conventos foram um lugar sob medida para Boccaccio – a imaginação masculina vibra sempre que um grupo de mulheres se enclausura, coloca uniforme e reza. Decameron se transformou em um cultuado filme rodado em 1971 por Pier Paolo Pasolini. Os mais curiosos devem ler o livro primeiro e assistir ao filme depois. Os preguiçosos podem ver apenas a fita.

6 DESIDÉRIA, de Alberto Moravia
Desidéria, de Alberto Moravia (1907-1990), o grande romancista italiano, já se anuncia no nome da personagem principal e no título do livro. Desidéria vem de desejo. Desejo sexual, naturalmente. Ninguém está falando aqui de chocolates. Filha de uma prostituta, Desidéria é adotada por uma mulher sexualmente voraz. Ela própria também não é nada fraca nessa área, e em certo momento a mãe adotiva cobiça sua carne magnética.

A narração é engenhosa. É feita na forma de entrevista. O narrador – “eu”, como ele se identifica – faz perguntas a Desidéria. Como é clássico em Moravia, a história é passada em Roma. O romance foi transformado em filme venerado pelos amantes da arte erótica. Desidéria foi interpretada por Lara Wendel em 1980. Nesses dias Lara era capaz de convencer o papa a rezar o Alcorão.

Minha recomendação à comunidade é ir à melhor livraria e comprar não apenas Desidéria, mas tudo o que encontrar de Moravia.

5 ELOGIO DA MADRASTA, de Mario Vargas Llosa
Vargas Llosa (1936) tem uma obra grande em quantidade e em qualidade. É uma vergonha para os escritores brasileiros que tenha sido ele, um peruano, quem percebeu a grandeza dos Sertões, de Euclides da Cunha, e a oportunidade de romancear Canudos, o que ele fez com A Guerra do Fim do Mundo.

Também na literatura erótica Vargas Llosa se impôs. Ele é especialista em Schiele, o esplêndido pintor austríaco que deu às mulheres de seus quadros um ar de entrega sexual absoluta e arrebatadora. Schiele faz parte do enredo de Elogio da Madrasta, romance de Llosa que trata da iniciação amorosa de um garoto com a mulher de seu pai.

Há aí também um tributo de Llosa a seu romance predileto, A Educação Sentimental, de Flaubert. Em Elogio da Madrasta Llosa levou a educação sentimental de um jovem a níveis de completa carnalidade. Se a obra de Flaubert comove, a de Llosa excita.

4 ANTI-JUSTINE, de Restif de la Bretonne
Sade associou o prazer sexual à dor. Seu arquirrival La Bretonne (1734-1806) fez o oposto. O sexo para ele estava vinculado à alegria de viver. Anti- Justine, uma de suas obras capitais, é uma resposta a Justine, de Sade. Os dois livros figuram entre o que de melhor se produziu na mais atrevida literatura libertina da história – aquela que se fez na França no século 18.

Em Anti-Justine, o narrador conta suas aventuras sexuais, as quais começam quando muitos homens ainda acreditam pelo menos parcialmente em Papai Noel. Como o futuro Luís XV, o herói tem fixação por pés femininos, e são os de uma irmã sua que primeiro despertam seu interesse sexual. Os críticos e os leitores de Bretonne acabariam com uma dúvida que jamais se dissiparia: ele quis se opor a Sade mostrando, como o narrador afirma, que o sexo é puro prazer ou na verdade decidiu fazer um romance ainda mais pornográfico do que Justine? Qualquer que seja a resposta, Anti-Justine se impõe como volume obrigatório em qualquer bibliografia libertina.

3 JOIAS INDISCRETAS, de Denis Diderot
Diderot (1713-1784), o enciclopedista francês, tinha um problema quando era bem jovem ainda: a amante exigira 50 luíses de ouro para não abandoná-lo. A solução que ele encontrou foi escrever às pressas um romance libertino, como era moda na França de seus dias, a segunda metade do século 19. Em 15 dias ele escreveu um romance do jeito que os leitores apreciavam. Levou-o a um editor, o qual lhe deu as moedas. “Então eu as atirei na saia da tinha amada”, lembraria Diderot. O romance é Joias Indiscretas. A inspiração veio de O Sofá, de Crébillon, que figura nesta lista. Em vez de um sofá que observa as farras sexuais das pessoas, são joias. Mais uma vez a história é passada em um lugar que excitava os franceses pela sofisticação erótica apurada ao longo de séculos: a Arábia das Mil e Uma Noites. As Joias Indiscretas, fora seu valor erótico, é uma lembrança pungente do que um homem é capaz de fazer quando uma amante fogosa ameaça abandoná-lo.

2 O SOFÁ, de Crébillon Fils
Como era boa a literatura libertina francesa do século 18, quando os ventos da mudança radical varriam a França! O Sofá, de Crébillon (1707-1777), é um clássico erótico. Como muitos romances do gênero, a inspiração – improvável quando se pensa no mundo em que vivemos – é o Oriente misterioso e sensual dos maometanos, tão bem registrado nas Mil e Uma Noites e hoje símbolo do conservadorismo sexual. Um homem que em uma outra vida foi sofá – ah, o humor e a imaginação dos franceses – narra a um rei o que testemunhou. E não foi pouca coisa.

Crébillon toca na hipocrisia. O sofá diz que viu muita gente tomada pelo vício se empenhar não em mitigá-lo, e sim em escondê-lo. O livro, como tantos outros da mesma família, foi publicado anonimamente. Os franceses
inventaram a arte de fazer amor e também a arte de escrever sobre fazer amor. Uma prosa charmosa, jamais vulgar, inteligente e sacana. Voilà. Em uma biblioteca libertina decente, O Sofá e Crébillon são mandatórios.

1 RELAÇÕES PERIGOSAS, de Chordelos de Laclos
Este é o supremo da sutileza erótica. Laclos (1741-1803) escreveu um tipo de livro que fazia sucesso na França pré-revolucionária: um romance epistolar. Toda a trama – em que há sexo, sedução, cinismo e elegância, tudo misturado gira em torno de cartas. O ócio esplêndido em que vivia a aristocracia francesa era em grande parte preenchido, como se pode ver em Relações Perigosas, pela prática de algo em que os plebeus e as plebeias atraentes estavam enfim incluídos – cópulas, cópulas e ainda cópulas. A versão cinematográfica de 1988 em que John Malkovich brilha como o canalha sedutor e manipulador Valmont está quase à altura do texto de Laclos. Ele queria escrever um romance que fugisse do comum e sobrevivesse à sua morte. O objetivo foi gloriosamente alcançado.

fonte: http://180graus.com/sexo–prazer

Veja também: https://janusaureus.wordpress.com/2012/04/29/atendendo-a-pedidos-2/

A mulher que vendeu o marido

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(English-speakers, skip the part in portuguese, scroll down to read O’Connor’s short story) Estimada leitora, quanto vale o seu homem? Prezado leitor, em quanto você acha que está cotado? Sei que é muita metafísica para um domingo de maresia e leseira, mas a pergunta procede. É baseada em um “fatos reais” da cidade de Patos, […]

Livros esculturais (ou: deus me livre, a missão!)


(poxa, dá pena de estragar livros assim, a não ser caso eles já estejam arruinados além de qualquer reparação…ou se forem “obras primas” estilo Paulo Coelho, aí sim, eu faria esse tipo de coisa com prazer! *rsrsrsrsrs* Essas fotos curiosas vieram daqui – exceto as do Brian Dettmer, que vieram daqui, óbvio! E a do polvo e da Alice não me lembro de onde peguei, sorry…). Já sabem: basta clicar nas fotos para vê-las no tamanho original (normalmente são bem maiores, mas algumas infelizmente não…). Ah, e se gostam de livros, lembrem-se de visitar o outro post a este respeito, com wallpapers e árvores de Natal feitas de livros *rs*

Guy Laramee já trabalhou como escritor, diretor, compositor, fabricantes de instrumentos musicais, cantor e escultor. Entre seus trabalhos esculturais há duas séries de livros escavados com paisagens: Biblios e The Great Wall, nas quais densas páginas de livros velhos são transformadas para revelar montanhas serenas, platôs e outros cenários idílicos.

The Great Wall

Having recently overthrown the American Empire in the 23rd century, the Chinese Empire set out to chronicle the history of the Great Panics during the 21st and 22nd centuries.

This Herculean undertaking resulted in a historiographical masterwork entitled, The Great Wall. Comprising 100 volumes, this encyclopaedia derives its name from The Great Wall of America, a monumental project to build an impregnable wall around the United States of America so as to protect this land from barbarian invasions. 150 years in the making, this wall ultimately isolated Americans from the rest of the world while sapping the country’s remaining cultural and natural resources. It also undermined the American people’s confidence in systematized hedonism, thus hastening the fall of the American Empire. As we now know this paved the way for China to invade American territory.

The Chinese Empire later ordered a group of scribes to write The Great Wall series. In the course of their duties they familiarized themselves with the libraries of the former USA. Through a strange twist of fate they thereby discovered the ancient sources of their own civilization which the new Middle Kingdom had long ago removed from its libraries. In the end this contact, primarily with Taoism and Chan (Zen) Buddhism, sowed the seeds of the Chinese Empire.

There’s nothing to fear but…(fear itself?)

detalhe da there’s nothing to fear, feita com livros de bolso:

E já que o assunto é livro, não pude deixar de incluir aí embaixo uma estante bem legal 😀

Deus me livre!


Ah, vai, admita, você gostou do trocadilho… 😛 Ok, ok, lá vai outro na mesma linha: LIVRE-SE da ignorância! 😉 ahhahahahah (clique nas fotos para vê-las em tamanho maior – elas vieram desse blog)