(…) Uma senhora mostra o dedo médio para um rapaz de bicicleta, sem camisa, que parece lhe pedir calma. Foto de capa da Folha de S.Paulo de 25/11/11, a imagem era da passeata dos estudantes na USP na avenida Paulista que havia acontecido no dia anterior. Mais de 5 mil pessoas tomaram a via para pedir, entre outras reivindicações, a saída da PM do Campus e o afastamento do reitor João Grandino Rodas.
A imagem espalhou-se pela internet rapidamente e retrata, de certa forma, o racha na cidade em torno dessa discussão que mistura estudantes da USP, invasão da reitoria, liberdade, polícia e preconceito.
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A fAlha achou Guilherme Folco, protagonista da foto. Diferentemente do que a Folha disse, não é estudante da USP, mas acha a discussão importante e por isso foi lá. Guilherme também trabalha, ao contrário do que afirmam centenas de comentários na internet – apesar de que, na opinião deste blog, o fato de a pessoa trabalhar ou não nada tem a ver com seu direito de protestar.
Quando vi ela assim xingando todo mundo fui lá explicar que se tratava de um protesto para pedir a mudança do reitor, que falta diálogo com a reitoria, que o orçamento de R$ 3,6 bilhões da USP é suficiente para garantir a segurança sem depender da PM… Enfim, ela não escutou e só gritava “Vocês só querem fumar maconha, não querem estudar! Têm que sair e dar a vez pra outro!”. Fiquei mal de ver como é tão superficial o pensamento geral… eu só queria falar que ela estava equivocada, sendo mal influenciada… eu tentava argumentar que aquilo não era um “ato de vagabundo que queria fumar cannabis”, como ela dizia, aos gritos loucos.
O que será que a deixou tão brava?… Ela era motorista, moradora da região?
Não sei, de repente tava atrasada… vai ver ela assistiu Datena e o Jornal Nacional e chegou à mesma conclusão que a maioria dos paulistanos chega. É lamentável, mas entendo… se eu estivesse no ponto esperando o ônibus, de repente iria ficar puto também. E pode ser que a ela só reste assist ir TV, mas e aos jovens que se voltam contra os alunos e aprovam a ação da PM? Isso sim é muito triste!
(…)
fiquei triste de saber que eu tava ali botando a cara pra bater literalmente enquanto todos contra o movimento são acomodados. Me preocupei de verdade quando entrei na internet na manhã do dia seguinte e já tinha 469 compartilhamentos da notícia no Facebook [fora quem compartilhou só a foto etc] cheios de comentários rasos e reacionários, como se a causa dos outros não fosse a sua também. Ninguém quer sair da zona de conforto, mas isso tem que mudar, né?
Muita gente disse que você é vagabundo e não trabalha por estar numa manifestação numa quinta à tarde…Eu trabalho! Hoje mesmo daqui há pouco [domingo] estou indo trabalhar. Sábado trabalhei o dia todo num evento, e geralmente descanso na segunda. Faço meus próprios horários e às vezes tenho janelas em horários durante o dia, como na tarde da manifestação. Eu tinha acabado de fazer dois testes para publicidade, um de manhã e outro à tarde, quando encontrei com um pessoal seguindo pra lá. Como é uma causa que me interessa, engrossei o caldo.
E você usa bicicleta sempre?
Só não uso se preciso levar muita bagagem. Senão, to sempre de bicicleta, máscara contra poluição e capacete. Naquele dia estava indo da Mooca pra Vila Mariana. De carro eu levaria quase meia hora a mais. Bike é o futuro! Temos que nos impôr na faixa da direita, fazer com que os carros desviem e não te atropelem. Há um medo geral pela violência dos motores, arrancadas, freadas e noticiários sanguinolentos, mas dá pra pedalar em São Paulo sim, é só se acostumar.
O que você acha de interromper o trânsito na Paulista? Isso foi muito criticado…
Foi necessário, para haver um conhecimento geral da questão, mesmo que estejam levando para um lado negativo e pejorativo. É assim que se protesta, com um mínimo de provocação e fechamento da rua, pacificamente. Achei bem organizado e bem humorado, tinha até a “tropa rosa choque” [sátira a tropa de choque da PM]. Mas, vendo por outro lado, o que eu sempre tento fazer, se eu tivesse tentando pegar ônibus e tivesse 60 anos ia ficar bem p. da vida também. Até entendo aquela senhora, coitada… Mas foi necessário fechar a Paulista sim.
Você protestava pelo direito de poder fumar maconha livremente na USP, como disse aquela senhora e tantos outros?Não, imagina… Não dá pra termos uma lei dentro e outra fora do Campus. Mas acho que a descriminalização é o futuro, diminuiria ou resolveria o problema. O mundo todo está voltado para uma nova visão na questão das drogas, o plantio caseiro reduziria o poder do tráfico, há muitos políticos falando disso. Mas essa é uma outra discussão.
Você é filiado a algum partido político?
Não! Brasil Unido Governa sem Partido [repete uma das palavras de ordem da manifestação]. A corrupção começa com os partidos políticos e o financiamento de campanhas. Sou pela diminuição do Legislativo. Esse sistema bilionário de assessores, verbas e imunidade parlamentar não é eficiente e tem que mudar já!
E o que você acha de tudo que aconteceu na USP recentemente?
Pra começar, falta segurança em qualquer lugar, e é inadmissível os roubos no campus e a morte de um aluno. A entrada da PM foi uma atitude emergencial, mas deveria ter sido avisado antes, e combinado, ter data marcada data pra sair. Isso porque a PM lá dentro, segundos os alunos, não ajuda em nada. Enfim… PM numa universidade? Isso é um absurdo, não existe!
E você estuda ou já estudou na USP?Não, nunca estudei. Mas, por conta de eventos de teatro, já fui várias vezes à USP, UFRJ, UFBA, Federal de Sergipe e algumas particulares. Mas estudei Artes Cênicas numa particular daqui de São Paulo, a Universidade São Judas Tadeu.
Se você não é estudante da USP, por que foi ao ato?Passei ali perto por acaso, conhecia a questão e acabei indo. Acho uma causa nobre sim! Diferente da maioria dos paulistanos… Fui no protesto contra o código florestal e Belo Monte, sou contra a corrupção do sr. Kassab na Prefeitura… Estamos vivendo um caos no Brasil e no mundo, não falta motivo para protestar: tem problema no preparo da Copa, quedas de ministros, um coronel assassino no massacre do Carandiru assumindo o comando da Rota… Estamos perdidos e a população não tem coragem de fazer nada, só fica acomodada assistindo suas TVs criticando quem está nas ruas tentando mudar algo. Lamentável.
via Falha faz a reportagem que a Folha não fez | Viomundo – O que você não vê na mídia.
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Aula de Democracia na Paulista (comentário de Vinícius Marques no Facebook)
COMENTÁRIO SOBRE A MANIPULAÇÃO DA IMPRENSA:
Hoje abro o Estadão e sem surpresa constato mais uma vez a rotina de manipulação pela mídia das informações referentes ao movimento estudantil pela Democracia na Universidade:
1) A “Aula de democracia”, que foi o título da passeata na Paulista e do Ato Público no MASP simplesmente foi ignorado – não foi mencionado!; o jornalista afirma que foi um “protesto contra o que eles chamaram de ‘falta de democracia na Universidade'”.
2) Não se menciona que se tratou de um protesto coordenado com alunos de outras universidades em toda a América Latina em favor da Educação gratuita de boa qualidade e contra a privatização, precarização e mercantilização da educação.
3) Foram estimados “cerca de 700 estudantes” pelo jornal, enquanto a PM estimou 1.000 e os organizadores 3.000 (me corrijam se esse número estiver errado).
4) O jornal, em box de destaque, afirma de modo enganoso que “A maconha levou à manifestação”, sendo que isso não foi nem pauta do Ato.
5) Só se fala da presença de estudantes da USP, e não se menciona a presença de alunos de outras universidades, sindicatos, Movimento LGBT, Movimento dos Catadores de Rua, Ocupa Sampa, além de visitantes de sindicatos e organizações estrangeiras, entre outros.
6) Se afirma que a manifestação durou duas horas, quando na verdade ocorreu das 15:30 às 18:30 na avenida, e depois até as 21:00 hs no vão livre do MASP. Definitivamente, está faltando um movimento contra a mídia manipuladora no Brasil.
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