Capitalismo vs. democracia – Estadão


Os governos eleitos da Grécia e Itália foram depostos. Tecnocratas financeiros estão no comando nos dois país. Com as taxas de juros dos bônus espanhóis subindo acentuadamente nas últimas semanas, o governo socialista da Espanha foi desbancado por um partido de centro-direita que não ofereceu soluções para a crise crescente desse país. Agora, o governo de Nicolas Sarkozy, na França está ameaçado pelas taxas de juros crescentes sobre seus bônus. É como se os mercados por toda a Europa tivessem se cansado dessa bobagem de soberania democrática.

Para ninguém achar que exagero, considere-se a entrevista concedida por Alex Stubb, ministro da Europa para o governo de direita da Finlândia, ao jornal Financial Times no último fim de semana. Os 6 países da zona do euro com classificações de crédito AAA, disse Stubb, deveriam ter maior influência nos assuntos econômicos da Europa que os outros 11 membros do euro. Os direitos políticos da Europa Central e do Sul seriam subordinados, basicamente, aos da Alemanha e da Escandinávia – ou às agências de classificação de crédito, que estão ameaçando rebaixar a França (reduzindo, com isso, de seis para cinco o número de países do euro tomadores de decisões).

O que Stubb está propondo, e os mercados estão fazendo, é, em essência, estender ao reino de países antes igualmente soberanos o princípio de “um dólar um voto” que nossa Suprema Corte inscreveu em sua decisão Citizens United no passado. O requisito de que se deve possuir propriedade para votar – abolido neste país no início do século 19 pelos democratas jacksonianos – foi ressuscitado por poderosas instituições financeiras e seus aliados políticos. Para os países da união monetária europeia, a “propriedade” de que precisam para garantir seu direito de voto é uma classificação de crédito apropriada.

via Capitalismo vs. democracia – suplementos – aliás – Estadão.