A fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida (e outros livros infantis)


(minhas fontes foram várias, mas sobretudo esta aqui)
Clara Luz era uma fada, de seus dez anos de idade, mais ou menos, que morava lá no céu, com a senhora fada sua mãe. Viveriam muito bem se não fosse uma coisa: Clara luz não queria aprender a fazer mágicas pelo livro das fadas.
Clara Luz queria inventar as suas próprias mágicas.
− Mas minha filha, todas as fadas sempre aprenderam por esse livro− dizia a Fada Mãe. Por que só você não quer aprender?
− Não é preguiça, não, mamãe. É que não gosto de mundo parado.
− Mundo parado?
− É que quando alguém inventa alguma coisa o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado. Nunca reparou?
− Não…
− Pois repare só.
A Fada Mão ia cuidar do serviço, muito preocupada. Ela morria de medo do dia em que a Rainha das Fadas descobrisse que Clara Luz nunca saíra da Lição Um do Livro.
A rainha era uma velha fada muito rabugenta. Felizmente vivia num palácio do outro lado do céu. Clara Luz e sua mãe moravam numa rua toda feita de estrelas, chamada Via Láctea. A casinha delas era de prata e tinha um jardim todo de flores prateadas.
Minha filha faça uma forcinha, passe ao menos para a Lição Dois! − pedia a Fada Mãe, aflita.
− Não vale a pena, mamãe. A Lição Um é tão enjoada, que a dois tem que ser duas vezes pior…
− Mas enjoada por que se ensina a fabricar tapete mágico…
− Já pensou que maravilha saber fazer um tapete mágico?
− Não acho não. Tudo quanto é fada só pensa em tapete mágico. Ninguém tem uma ideia nova!
Clara Luz estava sempre fazendo experiências com sua varinha mágica. Já de manhã cedo, reparava no bule de prata, olhava para ele e tinha uma ideia:
− Tem bico. Dá um bom passarinho.
E transformava o bule em passarinho, mas, o passarinho saía com três asas, duas novas e a do bule que tinha sobrado.
A Fada Mãe entrava na sala e levava um susto danado
− Que bicho esquisito é esse?
− É o bule, mamãe, que eu transformei em passarinho.
− Clara Luz! E agora? Onde vou coar o pó da meia noite para fazer o nosso café? E que ideia é essa de fazer passarinho com três asas? Ao menos ponha só duas asas nele!
− Mas mamãe, ele gosta de ter três asas!
O passarinho furioso entrava na conversa:
− Não gosto não senhora! Faça o favor de me consertar já!
Clara Luz não acertava e quem acabava consertando era a Fada Mãe e o passarinho agradecia muito:
− Se não fosse a senhora eu não sei como seria! Essa sua filha é muito intrometida. E saía pela janela resmungando ainda.
− Veja só inventar que eu gosto de ter três asas!
Mas essas eram as ideias menores de Clara Luz. Havia outras bem maiores.
A maior amiga de Clara Luz era Vermelhinha, uma estrela cadente e por ser cadente Vermelhinha podia ir onde queria no céu. Ela e Clara Luz corriam sem parar brincando de esconder atrás das nuvens.
− Minha filha, porque você não arranja uma amiga mais calma, heim? − perguntava a Fada Mãe, às vezes muito tonta com as travessuras de Clara Luz e Vermelhinha.
Mas perguntava por perguntar, pois gostava muito de vermelhinha. Tanto que, no aniversário da estrela resolveu dar uma festa.
Vermelhinha ia fazer nove milhões de anos, o que para uma estrela é bem pouco.
Clara Luz, que adorava festas, estava felicíssima, ajudando a mãe muito direitinho que justamente na véspera da festa teve que sair para desencantar uma princesa.
− Não faz mal − disse a Fada Mãe − Está tudo quase pronto. Você pode ir fazendo a massa dos bolinhos de luz, enquanto eu vou ver a tal princesa. Acho que já sabe fazê-los sozinha.
− Sei fazer muito bem.
− Ótimo! Amanhã cedo faço o bolo de aniversário. É só o que está faltando.
E a Fada Mãe abrindo suas asas cor de prata saiu voando pela janela, então Clara Luz correu para a cozinha e abriu o livro de receitas na página dos bolinhos:

Bolinhos de Luz

250 g de raio de sol
250 g de raios de luar
1 c de chá de fermento de relâmpago
Maneira de fazer:
Misturam-se bem os raios de sol e de luar, até saírem faíscas.
Junta-se então o fermento de relâmpago.
− Que fácil! − pensou Clara Luz. − Não sei como certas pessoas podem achar difícil fazer bolo!
E foi tirando os raios de sol e de luar dos potes onde estavam guardados, nas prateleiras. Despejou tudo num tacho e mexeu, como a receita mandava. A cozinha inteira começou a brilhar, faiscar e fazer barulho.
Quando chegou a hora do fermento, Clara Luz teve uma ideia:
− Fermento é que faz o bolo crescer. Se em vez de uma colher de chá, eu puser um relâmpago inteiro, vai sair um bolão enorme. Mamãe amanhã nem vai precisar fazer o bolo das velas.
É claro que não havia relâmpago inteiro em casa. Clara Luz não se atrapalhou:
− O jeito é eu ir para a janela e pescar o primeiro que passar.
Mas não foi fácil. Nenhum relâmpago concordava em entrar no bolo:
− Eu não, ora essa! Tenho mais o que fazer!
Afinal passou uma família inteira de relâmpagos: pai, mãe e cinco filhos. Ninguém deu confiança à Clara Luz mas, o menor de todos, um relampagozinho muito esperto ia ao fim da fila.
− Pssiu! − chamou Clara Luz. − Você quer entrar no meu bolo?
− Eu não, que não sou bobo. Pensa que quero ser comido em festa de aniversário?

− Clara Luz pensou um pouco:
− Você entra e depois sai. É só para fazer o bolo crescer.
O relampagozinho começou a gostar da ideia:
− Puxa! Deve ser divertido mesmo…
E aí a confusão ficou do tamanho certo!
Autora: Fernanda Lopes De Almeida
Indicações e prêmios deste livro:
– Incluído na Bibliografia Seletiva de Literatura Infantil, da Unesco, no Ano Internacional do Livro (1972).
– Indicado como uma das cinco melhores obras infantis brasileiras de 1967 a 1971 – FNLIJ.
– Selecionado para o acervo permanente da Biblioteca Internacional para a Juventude, de Munique (1976).
– Prêmio MEC/Troféu Mambembe de adaptação teatral da autora (1982).
Clara Luz é uma fada que quer fazer o mundo andar por suas próprias idéias. Para ela, quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado. Incluído na Bibliografia Seletiva de Literatura Infantil, da Unesco, no Ano Internacional do Livro (1972). Indicado como uma das cinco melhores obras infantis brasileiras de 1967 a 1971.
O livro narra a história de Clara Luz, uma fadinha que vive na Via Láctea, e como o próprio título do livro já diz, é cheia das idéias, e das mais “subversivas”, para o horror de sua mãe, sua professora, e principalmente da Rainha das Fadas.
A história é de uma delicadeza e sensibilidade marcantes, ao mesmo tempo que oferece um humor leve e inocente, como é típico nos livros infantis. Outro ponto forte desse belo livro, são as lindas aquarelas que ilustram a história.Clara Luz

Clara Luz era uma fadinha, de seus dez anos de idade, que morava no céu com a Fada-Mãe. Vermelhinha, a estrela, e Amarelinha, a gota de chuva eram suas melhores amigas. Clara Luz parecia uma fada comum, exceto pelo fato de ter muitas ideias e opiniões. A fadinha não gostava de seguir as emboloradas lições do Livro de Fadas e criava suas próprias mágicas.

A Fada-Mãe ficava muito triste e preocupada com a desobediência da filha e não conseguia fazer com que a menina passasse da primeira lição do livro. A zelosa mãe temia a punição da Rainha das Fadas. Por diversas vezes, teve que reverter ou anular as mágicas da travessa menina. Como exemplos, a vez em que a fadinha inventou um passarinho com três asas, o dia em que Clara Luz não seguiu corretamente a receita de bolinhos de luz e a massa cresceu tanto que escorreu até a Terra…

A jovem fada justificava-se afirmando que “quando alguém inventa alguma coisa, o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado”.

Durante uma de suas invenções, a menina convence sua mãe de que seguir as mágicas do livro era muito monótono e que isso todas as fadas poderiam fazer. O interessante era inovar, ou seja, realizar mágicas novas. Entretanto, ao nascer do novo dia, a Fada-Mãe voltou atrás em sua decisão por imaginar que poderia estar sendo um mau-exemplo para a filha.

Após inúmeras peripécias, Clara Luz e todas as fadas do céu foram convocadas a comparecer ao palácio da Rainha das Fadas para justificar, entre outras coisas, a invasão dos animais à sua nobre residência e o conteúdo do bilhete enviado pela Bruxa Feiosa, que reclamava sobre o colorido da chuva que caíra na Terra.

As fadas tinham verdadeiro horror ao que a Rainha poderia fazer ao descobrir a verdade e acabaram, quase que em sua totalidade, desmaiando. Clara Luz, muito corajosa, explicou a causa de todos os “fenômenos” (suas próprias travessuras!) à majestade, que sentiu-se muito orgulhosa pela inteligência da garotinha e acabou nomeando-a Conselheira-Chefe do palácio das fadas.

Não é exagero afirmar que se trata de um livro maravilhoso. Destinado às crianças, causa alegria e prazer aos leitores de todas as idades. No enredo, uma fadinha, Clara Luz, não se cansa de exercer as habilidades de um ser de muita curiosidade benigna e criatividade incessante. Ela torna alegre e surpreendente a sua e a vida de todos que a rodeiam.

Clara Luz é aliada da verdade, da insubmissão – com causa – e da inspiração que resulta em beleza, a cada toque de sua varinha de condão. A fada inovadora faz chover colorido; prepara iguarias, como os bolinhos de luz; convence sua professora de Horizontologia a conhecer de perto os horizontes novos que anseia revelar. Mas Clara Luz faz mais, muito mais.

A protagonista de A fada que tinha idéias é também, simbolicamente, porta-voz do antiautoritarismo: seja por não se ater às obrigatórias receitas de mágica do Livro das Fadas, seja por nunca temer a rabugenta Rainha das Fadas, que tratava suas súditas com rédea curta.

A própria autora escreveu o livro originalmente num período em que o manto da ditadura militar encobria a realidade brasileira. Naquela época, uma delicada fadinha como Clara Luz podia ser acusada de subversiva e até mesmo encarcerada.

A fada que tinha idéias foi publicada em 1971. Agora, em sua 27ª edição, ficou, nas palavras da autora, “muito bonita, mais colorida ainda, portanto mais parecida com o mundo de Clara Luz, que é um mundo de alegria”. A fadinha não faz por menos: transforma positivamente o reinado que habita e inunda de felicidade o coração de seus admiradores.

ENTREVISTA COM FERNANDA LOPES DE ALMEIDA

Temos a Sininho e tantas outras fadas dos contos clássicos. Mas Clara Luz, do livro A Fada Que Tinha Idéias, marcou e ainda marca leitores há mais de 30 anos. Sua autora, Fernanda Lopes de Almeida, ficou muito tempo sem publicar livros, mas não parou de escrever. Lançando agora o divertido O Rei Maluco e A Rainha Mais Ainda (Ed. Ática), ela conta estas e outras nesta entrevista, que aqui você lê um pouco mais.Quanto tempo você ficou sem lançar um livro para crianças?

O último trabalho que fiz foi adaptar “A fada que tinha idéias” para o teatro, em 1982. Ficou dois anos em cartaz e me deu muitas alegrias. Retornei em 2005, com “A Aranha, a Dor de Cabeça e outros males que assolam o mundo”, quinze histórias inspiradas em La Fontaine, seguindo-se agora “O Rei Maluco e a Rainha Mais Ainda”. Já existe um terceiro livro pronto para sair, “A Lei do Mais Forte”. Todos pela Editora Ática. E tenho um quarto em elaboração, com um tema bem alegre. Acho que as crianças vão gostar.

O que você fez enquanto isso e o que fez você voltar a escrever?

Na verdade nunca parei de escrever. Parei de publicar. Escrever é um vício que a gente não larga. Contraí esse vício aos sete anos de idade quando escrevi minhas primeiras historinhas. A vida de escritora é que deixei entre parênteses por um tempo bem longo. Ao contrário do que muitos pensam, é uma vida bem exigente. Precisei dedicar-me a outros assuntos, mas sempre tive o projeto de retomar esse trabalho e é o que estou podendo fazer agora, felizmente.

No que Clara Luz (de “A fada que tinha idéias”) e Heloísa (de “O Rei Maluco e a Rainha Mais Ainda”) são parecidas e no que são diferentes? A gente pode dizer que uma era ‘dos anos 70’ e outra é ‘do novo milênio’? Me deu a impressão de que Clara Luz tem um lado contestador muito forte e que Heloísa também tem, mas no sentido de ‘saber tudo’, e daí ela ser tão presa às convenções, não? É isso mesmo?

Não pensei em épocas, nem nunca penso. Tudo o que escrevo é atemporal. O que me interessa é o que é eterno no ser humano, independentemente de épocas. Sempre houve pessoas contestadoras e pessoas conservadoras e acho que sempre haverá. Esse jogo de contrários é da vida. Clara Luz, aliás, eu não acho propriamente contestadora e sim, livre. É aquela criança que diz o que pensa, não para desafiar (como muitos a interpretam), mas por achar isso natural. Fica é muito espantada que não se veja o que para ela é tão óbvio. Já Heloísa é o oposto: ela está muito satisfeita em seu mundinho bem ordenado e cheio de regrinhas, quando chega a Formiga e a convida a partir para uma visão mais ampla das coisas. Contestadores, são a Formiga e todo o povo do reino do Rei Maluco. Eles vêm oferecer a Heloísa aquela dose de saudável loucura que lhe falta. Por incrível que pareça há muitas crianças assim, isso não é exclusivo dos mais velhos. Heloísa poderia muito bem ser de 1970 e Clara Luz do século 21.

A Rainha é a representação do pensamento livre?

Não. A Rainha é a representação do avoamento, mesmo. Enquanto o Rei é um cumpridor de deveres (com a maior alegria, diga-se de passagem), ela é aquele lado de travessura, leve, despreocupado, de que também precisamos, para não virar máquinas. Ele tem a loucura da extrema bondade, da extrema tolerância, do extremo desejo de servir. E ela, com seus desastres, está sempre mostrando, sem querer, que o progresso não se dá em linha reta, que faz parte do crescimento o errar e o acertar. É por isso, talvez, que o Rei e o povo acham maravilhoso tudo que a Rainha faz.

Nós aqui falamos sempre que a literatura infantil ocupa o espaço daquilo que não se pode ensinar, daquilo que é do mundo dos pensamentos, dos sentimentos. Não tem função objetiva, é uma conversa com a criança. Que acha disso?

Concordo plenamente. O ensino oficial é todo voltado para a transmissão de conhecimentos e se preocupa muito pouco com o autoconhecimento. Então vem a literatura infantil e conversa com a criança sobre essa interioridade. Preenche um vazio.

Você pode falar um pouco sobre o período da ditadura e o espaço que a literatura infantil dava e tinha para se expor idéias. Como era exatamente? E hoje, qual a ‘função’ da literatura infantil? Que espaço ela ocupa?

Olhe, para mim não existe essa diferença entre o que fazia naquele período e o que faço hoje. Eu ia dizendo à criança o que diria com ou sem ditadura. Só que naquela época a gente pensava “Será que vão deixar passar? Será que vai dar confusão?” e agora não é preciso se preocupar com isso. Mas os temas que me interessam são os mesmos. Sonho com o ser humano livre, inventivo, fiel à sua originalidade, sabedor de que é um indivíduo único e cheio de potencialidades. Falo disso às crianças.

A questão do autoconhecimento é a base da história. Estamos todos precisando um pouco disso hoje?

Sim, hoje e sempre. Sem autoconhecimento, não há conhecimento do outro, não há conhecimento do mundo.

Podemos dizer que Heloísa é uma menina de hoje no sentido de ser ansiosa e cheia de julgamentos? Você acha que as crianças estão assim?

Ansiosos nós todos estamos, não é? O mundo todo está, com a fragilidade dos valores, a violência, o ritmo superacelerado de vida, todos correndo não se sabe em direção a quê. Mas o livro não fala especificamente disso. Fala de uma técnica de autodefesa que muitas pessoas usam (e sempre usaram, em qualquer época), que é a de se encerrar em realidades estreitas e estereotipadas, justamente para evitar ansiedades. As ansiedades de Heloísa começam quando ela questiona isso. São ansiedades saudáveis. Quanto às crianças de hoje estarem cheias de julgamentos, isso varia muito. Não vejo como um traço comum a todas.

Em sua opinião, livro tem faixa etária pré-definida?

Por mim, nunca penso em faixa etária exata, pois as crianças são tão diferentes umas das outras. E acho, como muitos acham, que o bom livro infantil interessa também ao adulto.

O que você lia na infância? O que você gostaria de ter lido?

Que eu saiba, li tudo que havia disponível na época, de Perrault, Grimm e Andersen a Monteiro Lobato, da Condessa de Segur a Jules Verne, das Alices (no país das maravilhas e no país do espelho) a Pinóquio, Peter Pan e outros.

O que faz um livro infantil ser realmente bom?

Não sei responder a essa pergunta. Eu generalizaria: o que faz um livro ser realmente bom? Não se sabe, ou melhor, não se traduz em palavras. Sente-se.

fonte: revistacrescer

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&

Os contos de fadas estão ligados aos relatos inaugurais da humanidade e são responsáveis pelo imaginário de milhares de gerações. O maravilhoso antigo, porta-voz de uma visão maniqueísta, serviu aos contos literários da tradição de Perrault e dos Irmãos Grimm, nos séculos passados, mas reingressa no século XX, com uma roupagem nova. Dentro do contexto histórico contemporâneo, os argumentos temáticos da magia feérica permanecem mas mudam-se os seus significados.

O livro A fada que tinha idéias revisita as imortais fadas num diálogo intertextual de natureza transgressora. A revolucionária fada Clara Luz, de 10 anos, rebela-se contra as lições petrificadas dos Livros das Fadas e acende seu desejo de inventar idéias. A banalidade dos ensinamentos estruturados em fórmulas mágicas estereotipadas desagrada a pequena fada carente de mudanças. Com sua vara de condão, Clara Luz quer experimentar o novo, quer se lançar no risco da novidade. Os representantes do velho mundo, na narrativa de Fernanda Lopes de Almeida, como as fadas-mães e a velha Rainha-fada, têm os horizontes fechados e se opõem à visão inovadora da menina-fada. E, assim, contrariando todos os modelos embolorados das mágicas tradicionais, Clara realiza suas idéias de criação e faz a chuva cair colorida, brinca de modelagem com as nuvens desenhando bichos no céu e inventa uma festa no céu com teatro e muita música.

O poder de tradição, exercido pela Rainha-fada, manifesta, logo, sua tirania e convoca uma reunião no palácio. Identificada pelo olhar corajoso e desafiante, Clara Luz é convidada a esclarecer os fatos ocorridos e, diante de uma platéia perplexa, expõe com clareza suas iluminadas opiniões. Reforça sua tese do bolor que cobre o Livro de fadas e revigora, de forma decisiva, o poder das invenções pessoais.

O livro de Fernanda Lopes de Almeida tematiza, portanto, o famoso conflito de gerações a promover a discórdia entre o velho e o novo. O próprio gênero, conto de fada, oriundo dos tempos arcaicos, é transformado pela proposta intertextual da contemporaneidade. Esse tema sugere para o leitor uma reflexão em torno do poder transformador das invenções e da importância de cada um ser sujeito de suas opiniões.

As ilustrações de Edú reforçam, artisticamente, a atmosfera de magia criada pelo texto.

Fernanda Lopes de Almeida é um dos nomes mais expressivos na área da literatura infantil brasileira a partir da década de 70. A fada que tinha idéias teve sua primeira edição em 1971 e seu sucesso foi confirmado pela crítica especializada que concedeu ao livro vários prêmios.

(Fátima Miguez)

 &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&
Lembrei e esqueci deste livro que tanto me marcou diversas vezes ao longo da vida. Resolvi revisitar um pouco dele agora, via internet, antes que me esquecesse novamente! Quem sabe o encontre na biblioteca.
Não foi meu primeiro livro, nem de longe (os primeiros foram aqueles que tinham basicamente uma ilustração e uma frase por página…não me lembro de nenhum específico…acho que também eram da editora Ática…lembro-me de uma ilustração linda com uma lua…ou era estrela?? Vou tentar achar 😛 hahahah Isso era do tempo que ainda não sabia ler, mas meus pais liam comigo :))
Tinha o Ou isto ou aquilo da Cecília Meireles, O Dedal da Vovó, Flicts, O menino maluquinho e todos os da coleção Cachorrinho Samba (sobretudo A montanha mágica e A mina de ouro)! Tinha também os Mistérios do 5 estrelas da vida, claro, mas esses livros vieram depois…antes deles, vieram As letras falantes; O sobradinho dos pardais; Memórias de um cabo de vassoura; No fundo do rio Amazonas; A vaca voadora; Meu pé de laranja lima; A Morte tem 7 Herdeiros: a noite em que Agatha Christie visitou Jacuruçunga; Pedrinho Esqueleto, Eu, detetive: o caso do sumiço…o que mais?? Putz, aquele cujo nome não me recordo…a capa era amarela (óóó :P) e tinha um ou dois cavalos…um claro e outro escuro. Será que se chamava Sol e Lua?? Era tão bonitinho esse…que pena que não me lembro…bom, se lembrar de mais algum, volto aqui e edito a mensagem 😉
Em tempo: acheeeiii!!!! 😀 São os livros da coleção Gato & Rato da Ática! Mais especificamente, Dia e noite (a foto abaixo é um wallpaper, aliás!) 🙂 E outros! Pronto, já estou mais tranquila agora…só falta o livro dos cavalos…droga 😛
um Gato, um
 Rato, uma coleção
de jogos
 de Linguagem

Peter O’Sagae
Professor de Literatura Infantil e Juvenil
Mestre e Doutorando em Letras (USP)

A coleção nasceu em 1978

O rabo do gato
, 23.ed. 2000
Fogo no céu! 20.ed. 1999
O pote de melado, 21.ed. 2000
O pega-pega, 18.ed. 2000
A bota do bode, 20.ed. 2000
Tuca, vovó e Guto, 17.ed. 2000

Que o professor fosse retorcer o nariz, as alunas sempre tiveram receio. Chegavam desconfiadas para mostrar-me a magra brochura de dezesseis páginas, incluindo a capa da frente e a de trás, cheio de ilustrações, mas eu vi assim que tem pouco texto: as crianças gostam muito e a gente tem um monte igual lá na escola, mas eu não sei se dá para fazer um trabalho sobre literatura com ele, se este livrinho tem tudo aquilo que a gente ‘tá aprendendo e escuta nas aulas, o que é que o senhor acha, hein? E sempre respondi que o-senhor-não-acha-nada e elas mesmas, minhas alunas e professoras na prática diária, precisam descobrir as coisas, avaliar e refletir sobre as escolhas: mas, calma, vocêconhece os autores? Sabia que a Mary e o Eliardo formam o casal mais premiado da literatura para crianças, só nas últimas


Três novos títulos em 1980…

O barco, 17.ed. 3.imp. 2001
O vento, 15.ed. 8.imp. 2004
Dia e noite, 19.ed. 3.imp. 2001

… e mais três novos em 1982!

Chuva!, 17.ed. 1999
O trem, 12.ed. 1999
Na roça! 14.ed. 8.imp. 2004

décadas? Alguma coisa boa aí tem, certo? Quase sempre, juntos, eles fazem o livro (e não um livrinho): e é sobre isso qu’eu gostaria que você pensasse __ como é que eles fazem o jogo da palavra com a imagem, como brincam com o leitor?Recentemente, no grupo de discussão Dobras da Leitura, uma troca de idéias sobre a qualidade dos textos para crianças versus o apelo da imagem (que, muitas vezes, condiciona a escolha de um livro para leitura, nas bibliotecas e salas de aulas, além de impulsionar as vendas no mercado editorial) me fez retornar à antiga e repetida cena. As informações nos afogam e o que aflige, principalmente às professoras de educação infantil e séries iniciais, é o redemoinho de critérios vários que se reviram nos discursos sobre literatura para crianças: entre os hábitos ditados no velho magistério (fortemente renovados pela voz dos divulgadores das editoras, nas escolas) e as águas que emanam nas considerações de especialistas, pesquisadores, críticos, autores (mais presentes na mídia, nas feiras e no círculo acadêmico). Águas que também não


A coleção retorna em 1986

A boca do sapo
, 12.ed. 1999
O caracol, 11.ed. 2000
O susto, 11.ed. 2000

cantam em uníssono…

No tecido fragmentário das opiniões, a coleção Gato e Rato, de Mary e Eliardo França, tem recebido uma apreciação elogiadora, porém diversa, como também o desmerecimento de alguns juízos e juízes. Sob a responsabilidade editorial da experiente Lenice Bueno da Silva, desde 1978, os livros do casal são publicados, em sucessivas edições e reimpressões, pela Ática, e formam um conjunto amplo de 35 títulos. Penso que, de fato, eles oferecem algum tipo de problema para a avaliação. São livros que podem ser observados sob muitos ângulos, de acordo com o contexto de leitura em que se inserem, as afinidades do leitor crítico, o leitor-alvo da coleção,


1987 e o quinto título de 1988

A galinha choca, 10.ed. 1998
O jogo e a bola, 8.ed. 2000
As pintas do preá, 9.ed. 2004
Surpresas! 7.ed. 1998
Que medo!, 8.ed. 1999

questões de gosto e de teoria, a literariedade (se existe ou não), a trama das imagens com o código verbal.A construção do projeto Gato e Rato pode parecer alicerçada nas primeiras noções “de mundo” com que se costuma despertar a percepção de nossas crianças, ainda em casa na companhia dos mais velhos, e que terá reforço na “escolinha”, ou ali mesmo se aprenderá: espacialidade, lateralidade, proporção, diferenças, similitudes, oposições. No entanto, esta é a simplificação de um olhar despreparado que se confunde com a simplicidade que sentimos fluir através das pequenas narrativas. Junto à evidência fácil dessas noções básicas, o texto de Mary França enfrenta ludicamente a elaboração infantil de conceitos mais abstratos, bem


Livros lançados em 1990

Chapéu de palha
, 6.ed. 1998
Sapato novo, 7.ed. 5.imp. 2002
Pato gordo e pato magro,
8.ed. 1999

Livros lançados em 1991

Gato com frio
, 8.ed. 1999
O balaio do rato, 9.ed. 1999
Bicho feio, bicho bonito,
5.ed. 1999

como sua relatividade nas diversas situações cotidianas ou pitorescas que criou. O que temos, ponderando parcialmente o fundo temático de alguns livros, é senão outra coisa lições de vida latente (nas palavras de Nelly Novaes Coelho, 1995: 808). De modo contrário a um modesto álbum de figuras, sempre muito esquemático, as histórias, com o movimentado colorido da ilustração de Eliardo França, criam “uma atmosfera de bom humor e de vitalidade”, afirma Fátima Miguez (FNLIJ, on-line), “que levam o pequeno leitor a uma identificação com o universo positivo da infância”.Na quarta-de-capa dos livros, pelo menos até 2002, a indicação de leitura sempre foi feita duplamente: para um público a partir de três anos e “para a criança que está se alfabetizando ler sozinha”. Com outras palavras, e certamente com novas idéias, a editora Ática passou a adotar em todos os livros de seu catálogo, o selo de “faixa etária sugerida”. Para a coleção do Gato e Rato, temos: leitura individual, a partir de 6 ou 7 anos; leitura compartilhada, a partir de 3 anos. Ora, não apenas a maturidade do leitor previsto, mas os contextos de recepção interferem


Em 1993, a coleção continua…

O piquenique, 6.ed. 1999
Um belo sorriso, 6.ed. 2001
Que perigo!, 4.ed. 9.imp. 2005

na fruição literária, e muito. Podemos contar as histórias para quem não lê e é ainda pequeno demais para ter paciência com longas narrativas. Podemos deixar quem-emenda-letra-com-letra-para-desvendar-o-texto livre da mão adulta… Por isso, textos enxutos, vocabulário tranqüilo de compreender. Agora fico a pensar: será que, tendo vencido as dificuldades da decodificação, leitores com mais de 5 anos, irão se prender às histórias? Sei não.O que me interessa destacar também são as diferentes propostas de texto e da ilustração oferecidas pelo casal França ao longo dos 35 títulos da coleção. Nas histórias que envolvem personagens animais (bem conhecidos das


Em 1996:

A casa feia
, 3.ed. 7.imp. 2004

Em 1997:

O retrato
, 3.ed. 7.imp. 2004

crianças, como gato, rato, pato, o porco, o bode, galo e sapo), o narrador assume o discurso em terceira pessoa, a visão “de fora” mas, por vezes, entra pela cabeça de um personagem para focar seus pensamentos. Em alguns episódios, o narrador quase se esconde, deixando, mais em cena, a situação dialogada entre os bichos. Em outros livros, Mary escolhe outra voz para dar ao texto: a voz de uma criança assume o papel principal da enunciação, sua fala em primeira pessoa. O resultado é a inserção das demais seqüências discursivas, além da narração, como dominante: nos textos mais descritivos, a visão da criança sobre as coisas e os fatos do cotidiano; nos textos com um levíssimo traço dissertativo, as explicações e as dúvidas revelam buscas interiores e a satisfação de poder ser e estar no mundo 😉 As repetições de frases-situações são uma das constantes nos textos da coleção Gato e Rato, e gosto de pensar assim: nas narrativas, o efeito acumulativo, dá sabor de lengalenga às histórias; na descrição, que


Últimos títulos de 1998

Fantasia!, 3.ed. 2000
A banana, 3.ed. 9.imp. 2004
Mariana, 2.ed. 2000

tende a apreender a simultaneidade dos eventos que correm a volta, enumeração; na “argumentação”, a musicalidade de um refrão.Embora a coleção tenha toda ela o mesmo formato, o tamanho médio de 19x22cm, as ilustrações de Eliardo evitam a monotonia de uma técnica só: imagens com o contorno preto muito nítido e cores chapadas, sem sombreados; mistura de tinta guache com o recurso de colagem; contornos muito finos com lápis de cor nas hachuras que expõem a textura do papel; ecoline e aquareladas de cores vibrantes.

Na minha estante tem…



As narrativas, principalmente as histórias de animais (A galinha chocaUm belo sorriso), enquanto registro verbal, são articuladas sem uma introdução (ordem ou equilíbrio inicial) e colocam de pronto a perturbação: o personagem à beira do conflito, como a galinha que pede aos vizinhos para vigiarem seu ninho, o rato que chega com lápis e papel à procura de alguém para fazer o retrato. As categorias de tempo e de espaço são abolidas do texto de Mary França, existindo implicitamente nas ações dos personagens ou na mente do leitor. Quando o fundo da página não se estende branco, cabe à ilustração dar alguma pista a respeito do cenário (A galinha chocaO retrato), mas mesmo assim o espaço permanece com traços bastante indeterminados. Então, situações intermediárias do desenvolvimento narrativo evoluem por uma complicação sempre crescente: os animais nada parecem perceber, ou encontram-se tão absorvidos pelas próprias ações que não são mais capazes de refletir sobre o que lhes acontece. Assim, ao leitor, fica a tarefa de avaliar o que se passa entre os personagens. Por que todos dão as costas para o gato fotógrafo (O retrato)? Até quando o gato de listras azuis dará ouvidos aos palpites dos outros (A casa feia)? Quem é que botou o ovo estranho no ninho da galinha? Uma resolução chega regada por um pouco de suspense (A galinha choca__ que se desfaz satisfatoriamente na virada da página para a conclusão. Em todo percurso, o que é óbvio logo de cara, o narrador não confirma para o leitor. O que o leitor não imagina, fica fácil de descobrir.Mas o que realmente predomina é o inusitado, do clímax ao desfecho, por um humor inerente à ação em cena (Um belo sorriso) ou pela graça promovida por um trocadilho lingüístico, em confronto com a imagem: “Olhem o passarinho!”, diz o gato para os outros animas e o que vemos é o tico-tico encarrapitado na cabeça do fotógrafo (O retrato), o pato chiando “Lá vem o bode” que nós sabemos ser duplamente o bicho e o problema chegando (A banana). Uma das historietas que conheço vai se diferenciar quanto ao encaminhamento para o final: o gato que dava ouvido “às outras pessoas” 😉 enfim, tem uma idéia própria para deixar sua casa bonita: obra pronta, convida o pato, o bode e o rato para entrar. O texto verbal pára nesse ponto mas, na virada de página, a ilustração toma a dupla-página mostrando o que lá dentro acontecia: os bichos em volta da mesa posta, dividem café, queijo, sorrisos e bolinhos.O elemento surpresa é praticamente a “marca registrada” da coleção Gato e Rato e, em um trabalho com estratégias de antecipação (das sugestões fantasiosas até as inferências lógicas), as tramas oferecem oportunidades para o leitor interagir, principalmente ao que diz respeito à resolução e à nova ordem estabelecida no final da narrativa. Também alguns títulos e as imagens apresentadas na capa irão arranjar-se coerentemente depois.


Outras histórias, de gente, de bichos, ainda posso comentar. Sapato novo mantém-se fiel ao esquema acumulativo das narrativas comentadas. Numa brincadeira de soldados seguindo as ordens do capitão, o pequeno João divide-se imensamente entre marchar adiante ou evitar que seus sapatos se sujem. E vamos acompanhando as tarefas divertidas do pelotão e a indecisão do menino que não pula e não corre como os outros. No final, claro, ele encontrará uma solução… Em Que perigo! quase que não há história: é mais uma cena peripatética, de efeito cômico e teatral. Sob um céu noturno, duas joaninhas conversam. Vendo passar um vaga-lume, um morcego, uma coruja e um cometa, vão descrevendo as coisas vistas como coisas possíveis de se imaginar. O humor reside na diferença, ou dissociação, que há entre o que elas expressam (nas falas do texto verbal) e o que as coisas realmente são (estampados na ilustração).Verdadeiramente, só “não curti” duas histórias dos doze livros que tenho na estante __ embora apresente um texto de maior extensão, a efabulação mais desenvolvida não garantiu a surpresa. Em As pintas do preá, a repetição de um elemento dramático, gerador de suspense e curiosidade, cedeu lugar a enumeração. Na roça! insere uma seqüência de introdução (apresentando personagens, onde vivem e o que fazem); aí, uma vaca some; vendo as marcas das patas no barro, Bia e Daniel vão encontrá-la na estrada (e isso corresponderia à perturbação da ordem, a avaliação da situação em busca de solução, mais o clímax) __ porém o fluxo se quebra, como se outro episódio fosse iniciado, na hora em que eles têm de pegar o bezerro…


Para falar de um fenômeno natural (O vento), Mary França encontrou a voz de uma criança que só se desvela, no final do livro. O vento venta personificado na sua passagem por uma pequena cidade: faz balançar as flores, sopra frio, sopra forte e faz todas as coisas voarem. E é isso o que vemos nas imagens, página a página, até a última, quando descobrimos o pequeno enunciador que diz: “E o vento levou pro céu meu avião de papel.” Apenas um pronome (possessivo) denuncia a presença infantil no interior do discurso. Em outros dois livros (O barcoDia e noite), as crianças se apresentam de imediato. Um menino acena: “Adeus, papai! Adeus, mamãe! Agora, vou navegar.” Uma menina confessa suas dúvidas: “Não sei gosto mais do dia. Não sei se gosto mais da noite.” O primeiro texto faz uma incursão imaginária e descreve toda paisagem às bordas do rio até alcançar o mar. O menino vai longe, longe, apenas em um barco de papel (se mexêssemos na teoria, teríamos a certeza de que o texto trabalha com aquilo que Todorov chamou de discurso preditivo). No segundo livro, a menina pondera sobre tudo o que pode fazer, de dia, de noite, alternadamente. Vira um texto circular que termina exatamente onde começou __ o impasse: do que gosta mais?

As ilustrações de Eliardo França para a coleção do Gato e Rato acompanham o registro verbal, mas também o ampliam. Esta articulação intercódigos, entre palavra&imagem, é bem vinda. Mesmo que nelas ainda resistam um hábito associativo, de reiteração, de mostrar taco-a-taco o que é referendado no texto escrito, detalhes são inscritos nas páginas coloridas. Gestos e olhos das personagens, por exemplo, também são índices para a leitura. (E, para mim, a criança tem que “ler” a imagem, descobri-la com os próprios olhos; de nada adianta a professora ficar mostrando com o dedo, como se o aluno fosse cego de tudo: agindo assim, estará apenas atuando no nível da decodificação, estímulo-resposta pronta, fechada…) Dos detalhes do desenho, do uso das cores, da distribuição das figuras no plano do papel, descolam-se novos sentidos para a leitura.É forte a colaboração da ilustração no projeto desses livros, mas devemos evitar equívocos, não subestimar a qualidade do texto verbal (para nossa felicidade, na maioria dos volumes aqui apresentados). Até mesmo Fanny Abramovich descurou a palavra, ao sentenciar que “embora apareçam legendas curtas, escritas por Mary França, estas seriam totalmente dispensáveis, tal o impacto visual que as ilustrações provocam…” (1991:31). Se isso pode ser demonstrado, com alguma razão, a partir das narrativas em que prevalecem a ação dos personagens (como em A banana, uma lengalenga de animais que possui a estrutura mais simples), não é uma idéia que se aplica sem prejuízos à toda coleção dos França. Vejamos que a ilustração entra numa relação de complementaridade com o texto: “De dia, eu posso balançar. Vou alto, bem alto, no meu balanço.” E vemos a menina no brinquedo, entre pássaros e borboletas. O movimento deixa o corpo da menina numa certa horizontalidade. Página seguinte, repete-se uma frase que é refrãozinho do texto-quase-poema: “Mas, de noite, eu posso sonhar.” E a imagem mostra a menina com asas voando sobre os telhados de uma cidade branca (Dia e noite).Discordo que as imagens possam contar as histórias, isoladamente, sem perder os efeitos de sentido que se têm a partir do ponto de vista eleito para a narração. Mas, isso não está somente no discurso construído em primeira pessoa de alguns textos, mais descritivos ou argumentativos. Está no humor de Um belo sorriso, no policialesco doméstico d’A galinha choca. Minuciosa, Maria Antonieta Antunes Cunha analisou O pote de melado, encontrando elementos para a valorização do texto __ da simplicidade generosa do léxico à sonoridade das palavras combinadas nas orações absolutas de estrutura regular. Destaca também o caráter imprevisível da trama: quando vovó chega, os bichinhos se escondem e, então, ela pega o gato, o rato e o pato pelo rabo: esperamos que vovó aplique um castigo a eles, mas isso não é o que acontece. Antonieta Cunha afirma que a “ilustração de Eliardo França é, como sempre, muito boa” mas merece uma ressalva (interessantíssima, aliás): “na antepenúltima e na penúltima páginas (quando a vovó pega os animais pelo rabo), o rosto risonho dela

Um livro que não sei a data é

O rato de chapéu, 3.ed. 1998

Também preciso confirmar
se Bicho feio, bicho bonito
foi lançado em 1991
O piquenique, em 1993.

Alguém me ajuda?

antecipa a página seguinte, desfazendo assim a imprevisibilidade que o texto guardou para o final. Preferíamos que a avó aparecesse de costas, para o suspense manter-se até a última página” (1997:68).Pelos meandros da coleção Gato e rato (texto palavra&imagem), além das graciosas repetições do verbal, podemos encontrar outros recursos da narrativa literária, de estilo e jogos de linguagem aos borbotões: paralelismos, o polissíndeto que dá o ritmo de ignição para as frases começarem, eco e rima, aliterações entre assonâncias que compõem a musicalidade do texto, a gradação que gera o suspense para a virada da próxima página, leve ironia, as antíteses que se confinam nelas mesmas ou viram um ingênuo, mas hilário paradoxo. Tem procedimentos retóricos diluídos do barroco: dispersão e concentração dos elementos figurativos. E como nem tudo é repetição lingüística, tem também anáforas zero para serem preenchidas. Fáceis demais? Claro, tudo muito simples, sem excessos, para a nossa diversão. E daí, eu fico só matutando: quanto do gosto infantil, quanto do olhar adulto, equilibram uma avaliação da literatura para crianças? O próprio livro deve buscar ou encontrar seu leitor propício?

13 pensamentos sobre “A fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida (e outros livros infantis)

  1. adrielly disse:

    eu adoro

  2. Janus disse:

    Li quando era pequena…minha mãe deu o livro embora, acredita?! *rs* Bom, pelo menos alguma criança fora eu deve ter aproveitado…acho que vou procurá-lo em alguma biblioteca para relembrar.

  3. Naillê disse:

    Eu adorava A Fada que tinha idéias! Lembro de vários desses livros… Flicts, Fogo no céu… Porém, existe um que não consigo lembrar o nome nem achar em lugar nenhum. Era sobre uma menina que fazia várias coisas divertidas, lembro que as mais marcantes eram: brincar de esconde-esconde com o bicho papão e ver luta de peixe-espada no colo da sereia. Lembras desse livro? Quero muito achá-o e não consigo!
    Abraço,
    Nai

  4. ratuma disse:

    muito obrigada,eu tava louca procurando pelo livro:A fada que tinha ideis .Pois ´pense bem ele é muito divertido.Ah e eu possso perguntar uma coisa?´´´´É verdade que nessa historia tem uma parte que é a chuvacolorida?

  5. paulo disse:

    e vdd ratuma

  6. ffgjfj disse:

    nao ajudou em nada que eu queria

  7. julia disse:

    a minha professora ela ta lendo a fada que tinha ideias tamben mais so falta o utimo capitulo pra ela ler

  8. eu amo a Fada que tinha ideias

  9. no meu livro tem esse texto

  10. Bruna Alves disse:

    Nossa esse livro e muito legal .. Gostei muitooo!!!

  11. JHENYFERR disse:

    REALMENTE E BEM LEGAL E EU ADOROO LER ENTAO FICA MAIS DIVERTIDO AINDA! EU TIVE QUE PESQUISAR ESSE LIVRO PQ A PROFESSORA DO MEU IRMAO TAVA LENDO PRA ELE AI ELE COPIOU ALGO ERRADO E EU TIVE Q PESQUISAR E ACABEI GOSTANDO E LI A HISTORIA TODA RSRSRS

Deixe um comentário